quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Novelletto: “Romildo foi feliz ao falar em abrir mão de percentuais para os clubes do interior”

A três dias do início do Campeonato Gaúcho de Futebol, o Correio do Povo entrevistou o presidente da Federação Gaúcha de Futebol sobre a edição 2016 e sobre outros temas envolvendo a entidade. Entre outras coisas, Francisco Novelletto comenta sobre a proposta de modificação do Gauchão para 2017, com Inter e Grêmio jogando menos partidas e abrindo mão de uma percentagem dos direitos de transmissão. Confira:
Noveletto fala sobre o Campeonato Gaúcho, Primeira Liga e o futuro do Estadual

Como os clubes do interior estão enfrentando a crise financeira?
A crise que assola não só o país, mas principalmente o nosso Estado, é inegável. Não tem como omitir, como esconder e não querer ver. Nós estamos sentindo, ainda temos placas a serem vendidas. A crise chegou e o futebol do interior vai sentir, até porque nós não temos ainda um contrato para os próximos anos. Este é o último contrato e temos que renegociar valores.
Como deve ser o Gauchão deste ano?
A emoção vai ser na parte de cima. Por exemplo, o Brasil de Pelotas tem uma obrigação por ter subido para a Série B. O Veranópolis investiu muito, o Juventude tem uma camisa e montou uma boa equipe. Ano passado, jamais passaria na minha cabeça que o Cruzeiro ou o Novo Hamburgo por detalhe não chegassem a disputa do título. Além das equipes que se prepararam melhor, tem o elemento surpresa. A emoção é em cima e em baixo e ninguém quer cair para a segunda divisão. É uma grande disputa que vai acontecer esse ano e isso só vem a valorizar o nosso Gauchão.
Como está situação dos gramados no Estado?
Eu te digo com a maior convicção: são os melhores gramados do país. Eu assisto a todos os campeonatos estaduais, que é o que me interessa. Eu pego o pacote de todos e fico ali controlando o que é bom e o que é ruim. Eu tenho visto gramados que me deixam envergonhado até. Nesse sentido, eu daria uma nota 9 para o Campeonato Gaúcho. E existem campeonatos que não ganham nem uma nota 4. As direções ouviram que o que eu tenho pregado sempre: o clube fica e o atleta vai embora. Então, a verba de publicidade e patrocínio os clubes têm que investir no seu patrimônio. Se gastar a verba no resto, o patrimônio acaba se deteriorando. Eu apelo para que eles invistam de 10% a 20% no patrimônio. Na medida do possível, eles aceitam.
Como está a preparação da arbitragem?
Discussão tem em todo campeonato. Eu vi cada falha na Copa do Mundo! Meu deus do céu! Claro, o erro vai acontecer, enquanto o atleta do clube erra 100 vezes, o nosso árbitro vai errar 1. É um ser humano também. Nos preparamos para errar o mínimo possível. Não pode considerar erro uma interpretação do juiz. Não pode considerar erro o juiz ter que acertar no momento porque passam três vezes o replay e mostram que a ponta da chuteira do jogador está na frente no impedimento. Se a parte eletrônica tem dúvidas, imagina quem tem que tomar a decisão dentro do campo. Nos preparamos para isso, fizemos uma pré-temporada sensacional em Flores da Cunha.
Como o senhor recebe as críticas, em especial, dos gremistas sobre a forma que dirige a FGF?
A minha consciência está tranquila. O torcedor é passional e acaba se envolvendo na paixão e emoção. Uma declaração que o ex-presidente (Lula) falou a pouco tempo que “não existe uma pessoa mais honesta do que eu”, vou reafirmar, se existe uma entidade transparente e honesta, é a nossa querida FGF. O exemplo vem de cima, eu estou aqui para fazer o correto. Se tivesse que favorecer alguém, eu favorecia o São José, que é meu clube.
Times têm a obrigação de jogar com o time titular?
Não existe. Eu ainda não sou treinador. A gente limita o número. Tive uma discussão outro dia com o diretor do Inter sobre os amistosos que aconteceriam nos EUA para jogar duas rodadas para frente. Jamais vou admitir cancelar duas rodadas por causa de um amitoso e jogar para frente. Não fiz isso nem com o Grêmio, que vai jogar uma Libertadores. Eu adaptei alguns horários, não a rodada, de interesse do Grêmio. Aí o diretor (do Inter), que é meu amigo, respondeu: “Então nós vamos jogar com o sub-15 se tu não liberar”. Com o sub-15 não vai jogar porque não está inscrito. Vai perder ponto e ser desclassificado. Se for botar o time reserva aí é com o treinador. A Federação não tem gerência sobre botar a equipe A ou B. Fica a critério de cada equipe. Por isso limitamos em 32 jogadores, para não dar a oportunidade de botarem atletas do sub-18 ou sub-19. 32 atletas de profissionais que pertencem ao clube.
Como o senhor está vendo a Primeira Liga?
Uma coisa que vocês (jornalistas) não podem cobrar do Novelletto é brigas. Não brigo com o (presidente do Inter Vitório) Piffero e nem com o (presidente do Grêmio) Romildo Bolzan. Não sei brigar com ninguém. A minha arma é o diálogo e o bem senso. Tenho matado o adversário neste sentido. Estou tentando intermediar a intenção. Não foi a primeira reunião. Vocês não ficam sabendo, mas tivemos várias. Estou tentando achar uma sugestão para que ninguém saia vencedor ou perdedor. Os clubes estão em um jogo de braço. Abertamente. Não visam título ou vantagem financeira. Estão visando manter um bloco e força perante a CBF. No início, cheguei a desconfiar que era contra a federação e contra o Francisco Novelletto. Não, absolutamente. Peço desculpas. É zero de possibilidade. É um enfrentamento contra a CBF. Acabam perdendo todos. Ontem, vi que a torcida do Flamengo queria invadir a federação carioca. A primeira palavra do Piffero foi para perguntar se eu ia ajudar os clubes na Liga Sul-Minas. Disse que não podia. Olha a situação! Dizer para os dois principais clubes que não vou ajudar por não poder.
Por que?
Não posso ir contra uma determinação da CBF. Eles têm força no STJD para me tirar do cargo e me suspender. Até deixa claro que o ofício que recebemos fala em sanções, mas não diz quais. Ainda comentei que duvido que eles teriam peito para tirar um Inter, Grêmio ou Flamengo. Eles podem desclassificar, rebaixar quando o clube é insubordinado. Agora, duvido. Meu jurídico passou que por uma insubordinação, (o presidente) vai para o STJD. O Tribunal aceita e daí o Novelletto fica seis meses fora, o Piffero fica seis meses fora e o o presidente Romildo seis meses fora. Temos que ter cuidado. O meu interesse é que haja um acordão para que os clubes não saiam perdedores e a CBF também. É muito jogo de braço, muito orgulho e, isso, é ruim para todos”
A Liga pode ajudar o Gauchão no futuro?
Os presidentes que estão na Liga estão pensando no futuro. Uma Liga lá na frente. Acho que eles não vão abrir mão. Senti que é inevitável que a Sul-Minas (Primeira Liga) aconteça. A CBF vai ter que engolir eles. Vão forçar a barra. Incluir a torcida e a CBF vai ter que aceitar. No começo do almoço (com os presidentes de Grêmio e Inter) disse que estava dando umas declarações porque não administro a FGF apenas para Inter e Grêmio. Eles têm o mesmo direito de voto como todos os outros, então, tenho que defender todos. Temos 100 afiliados. Tenho me pronunciado porque são meus principais clubes, mas tenho que defender todos. No final, acredito que o presidente Romildo memorizou isso e me disse que o ideal era começar um campeonato começando em setembro e outro. Fazendo uma eliminatória, classificando quatro ou seis equipes e a dupla Gre-Nal atuar entre oito ou 10 jogos, já que a Sul-Minas deve ficar com o mesmo número de jogos. Quando ia dar o bote neles, ‘tá mas e como fica aqui (gesto de esfregar os dedos citando os valores de transmissão), presidente?’. Mas, antes, ele foi muito feliz e disse que tinham (o Grêmio e o Inter) abrir mão de percentuais do Gauchão para os clubes do interior. O que foi a minha conversa no início, o prejuízo que todos teriam. Já que certamente iria dividir por dois a verba do Gauchão, já que a Primeira Liga é no mesmo período e os mesmos jogos. Eu entendo e acredito que o presidente Piffero também vai concordar, que temos que abrir mão de percentual para poder pegar o dinheiro e bancar a parte eliminatória do campeonato e que classifica quatro ou seis equipes. Parabenizo o presidente Romildo pela iniciativa. Também acho que vai ser bem recebido pelas equipes do interior”
O que o senhor pensa sobre a Liga Sul-Americana que os clubes estão tentando criar?
Só acontece essas Ligas por falta de credibilidade dos dirigentes. Eu não acredito em ligas administradas por clubes. Não vai dar certo nunca. Tivemos um grande comandante que foi Fábio Koff e, olha, precisaremos mais 100 anos para ter um dirigente parecido. Mesmo assim, o Clube dos 13 acabou. Não adianta. Eu conheço dirigente de futebol. Eu fui (no São José). Todo mundo é camarada um com outro até a bola dar a primeira girada. Esse é um detalhe e o outro é na divisão financeira. Cada um vai puxar a brasa para o seu assado. Não vai haver um consenso. Não vão se acertar. Falta credibilidade para os dirigentes. No momento que uma CBF e Conmebol tiverem credibilidade, ninguém vai fazer liga.”
Inter e Grêmio topam a divisão de renda que pedem no Brasileiro para o Gauchão?
Eles estão abrindo mão do Gauchão. Quando via Grêmio e Inter brigarem lá em cima (na CBF) para ganhar o mesmo que Corinthians e Flamengo, falava baixinho para os meus vices, ‘Mas porque aqui eles não aceitam?’ (risos). Serve para eles, mas contra, não. Como te disse, aquilo que o presidente Romildo falou: ‘temos que abrir mão de percentuais’. Eles estão se redimindo. Estão no caminho certo e sendo conscientes que precisam abrir mão para repassar para os clubes do interior”
Qual o recado para o torcedor gaúcho?
Que continuem apoiando o futebol gaúcho. Que continuem acreditando no nosso trabalho e esqueçam cores. Aqui não tem cores. Se é o Grêmio, o Inter, o São José ou o clube da minha mãe. Não. As decisões que temos que tomar, nós tomamos. Com transparência e com respeito ao torcedor. O que você não pode é brincar com a paixão e a emoção de um ser humano. Eu vou de carro bom ou de helicóptero, mas e quando o torcedor viaja 500 ou 600 quilômetros para acompanhar o seu clube acreditando que não tem ‘marmelada’ e tem, daí você está mexendo com a paixão e com o sentimento do ser humano. Não tem crime maior do que brincar com o sentimento das pessoas.
Por Carmelito Bifano
Jornal Correio do Povo
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